quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SER

Estava relendo um livro de Rubens Alves, que maravilha é ler um texto, deixar passar o tempo ( no caso desse livro, foi longo o tempo passado, 11anos), rsssss , a maravilha está em perceber as mudanças,que esses esses 11 anos provocarão. Nessa releitura, algumas coisas tem novo significado, um novo brilho, outras que brilharam antes, parecem bobagens hoje, e algumas permanecem encantadoras. Para mim, esse é o verdadeiro sentido da vida: essa dança continua e harmoniosa, provocada pela bela música dos ventos que nos renovam, transformam, levam folhas secas,deixam algumas raízes intactas, e ate mesmo uma simples e aparentemente  folhinha frágil,  pode permanecer no mesmo lugar.
um trecho em especial , passado desapercebido na primeira vez, me encontrou de uma forma diferente, foi como se um amigo especial, sentasse ao meu lado de forma acolhedora, e por essa razão resolvi transcrever esse pequeno trecho, é uma citação que aparece em um artigo de Rubem Alves "o batizado" A citação é do livro Raízes Negras, sobre o ritual de "dar nome".
   Omoro, o pai, moveu-se para o lado de sua esposa, diante das pessoas da aldeia reunidas. Levantou então a criança e, enquanto todos olhavam, segredou três vezes nos ouvidos do seu filho o nome que ele havia escolhido para ele. Era a primeira vez que aquele nome estava sendo pronunciado como nome daquele nenenzinho. Todos sabiam que cada ser humano deve ser o primeiro a saber quem ele é. Tocaram os tambores. Omoro segredou o nome no ouvido de sua esposa,que sorriu de prazer. A seguir foi a vez da aldeia inteira:"O nome do primeiro filho de Omoro e Binta Kinte é Kunta!" Ao final do ritual, após desenvolvidas todas as partes, Omoro, sozinho, carregou seu filho até os limites da aldeia e ali levantou o nenenzinho para os céus e disse suavemente:"Fend kiling dorong leh warrata ke iteb tee!: "Eis aí, a única coisa que é maior que você mesmo!"
Iluminada essa citação, nosso nome, nossa identidade, o inicio do projeto maravilhoso de "sermos", se dá, no amor, daqueles que pensaram em nos, antes mesmo que existissimos, porque a existência vem do amor compartilhado em um momento de encontro, vem do desejo, de duas pessoas, que nos batizam com um nome,nosso registro de amor, que nos leva a ser o que somos.
Finalizo, com o desejo, de que se multipliquem os Omoros e Binta, e, assim, crianças geradas e nutridas pelo amor, sejam bem vindas. Quem vem do amor, da partilha, recebe um nome: "CAPACIDADE DE SE RECRIAR,NAS ALEGRIAS E DORES DA VIDA"

Teomirtes Leitão

Um comentário:

  1. Fend kiling dorong leh warrata ke iteb tee!:eu queria ter pensado nisso no momento em que os meninos nasceram , mas ainda é tempo , sempre será tempo.

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